Cuba: o mistério para qual todos tem sua resposta



A República de Cuba, éuma nação insular caribenha com praias paradisíacas, conhecida pelo tabaco, pela cana-de-açúcar e pelos charmosos carros antigos. Tem História e política que causam polêmica. Seus caudilhos são venerados por uns e odiados por outros. 

Uma história conturbada.
Descoberta pelos europeus durante a primeira viagem de Colombo em 1492, foi colonizada por espanhóis desde então. Passou a ser intensamente ocupada quando foi estabelecida pela Espanha a Capitania-geral de Cuba, sendo  posteriormente fundada a vila de San Cristóbal de Habana (Hoje, Havana), capital do país. Com o sistema de "plantagem" (mais conhecida pelo seu nome anglófono plantation),  a cana-de-açúcar, o tráfico de escravos e o tabaco se tornaram os fortes de sua economia, esses comércios formaram uma elite econômica local.
Os primeiros movimentos pela Independência de Cuba surgiram no século XVIII com desentendimentos entre a elite tabaqueira e os espanhóis. Porém, a independência só foi efetivamente declarada em 1868, iniciando uma longa guerra contra a Espanha. Interessados nas riquezas do país, os americanos intervieram na ilha, pondo fim à guerra de independência mas iniciando a Guerra Hispano-americana, que terminaria com o Tratado de Paris (1898), acordo no qual a Espanha prestava o compromisso de reconhecer oficialmente a Independência cubana e cedia suas antigas possessões, Filipinas e Porto Rico aos Estados Unidos. Durante a Constituinte da recém-proclamada República de Cuba em 1901, os americanos pressionaram a Assembléia a inserir no texto da carta-magna a Emenda Platt, que permitia a intervenção militar americana caso o governo ianque sentisse que seus interesses não fossem bem representados pelo governo cubano, tornando a ilha caribenha uma nação com soberania limitada, assim como o já citado Porto Rico.
Quase toda a América Latina esteve na esfera de influência do Tio Sam durante a maior parte do século XX. Embora a colonização ibérica tenha acabado no século anterior, o colonialismo americano estava a mil no Novo Mundo. Cuba, até 1959, foi uma espécie de playground luxuoso dos americanos. Um dos responsáveis por consolidar essa realidade foi o ditador Fulgencio Batista, que tomou o poder por meio de um golpe militar, recebia gordas recompensas por conservar Cuba como uma colônia dos E.U.A. e matava milhares de pessoas em repressões policiais. A corrupção, o uso de drogas indiscriminado, a prostituição incentivada pelo governo (sendo muitas vezes a única fonte de renda de muitas jovens cubanas) e a jogatina dos cassinos foram fatores que agravaram os problemas sociais de Cuba.

Che, à esquerda e Fidel, à direita.
A Partir da Revolução
Liderada por Fidel Castro, seu irmão Raul, o ex-estudante de medicina argentino Ernesto Guevara (Che) e Camilo Cienfuegos, uma revolução de caráter socialista derrubou a ditadura de Batista em Janeiro de 1959.
Mas um fato que poucos sabem sobre os momentos posteriores à revolução é que Fidel Castro não se declarou presidente imediatamente. Primeiro, indicou o juiz Manuel Urrutia Lléo, que ficou por poucos dias no poder, e depois indicou o também juiz, Osvaldo Dorticós Torrado para a Presidência. Durante o governo de Osvaldo (1959-1976), Fidel foi Primeiro-ministro. Só se tornou Presidente do Conselho de Estado de Cuba (cargo equivalente àquele que chamamos de Presidência da República aqui no Brasil), em 1976, quando a Constituição de 1940 foi definitivamente anulada e uma nova foi promulgada. Entre outras coisas, essa nova Constiuição extinguía o cargo de Primeiro-ministro, ocupado por Fidel por 16 anos. Fidel foi Presidente até 2006, quando, por problemas de saúde, teve de renunciar, com seu irmão, Raul Castro, assumindo provisoriamente o cargo a partir de então e, em fevereiro de 2008, permanentemente.

Cuba Hoje.
Incidência de subnutrição em Cuba, México e Botswana
comparados.

Sobre a vida em Cuba, há um enorme choque de narrativas. Os anticomunistas pintam um inferno em Cuba, com a intenção de provar que o socialismo é um fracasso. Os mais inclinados à esquerda retratam a ilha como um Éden socialista.

Dados sobre as condições de vida da população.
Cuba está na posição de Nº 117 no Ranking Mundial de Incidência de Subnutrição, com uma taxa inferior a 2,5% de sua população. Taxa minúscula em comparação a países capitalistas subdesenvolvidos como Botswana e México (como mostra o gráfico comparativo ao lado esquerdo) como mostra o gráfico comparativo ao lado e empatado com países desenvolvidos como Noruega e Suíça, por exemplo.

Expectativas de vida em Cuba, Guatemala, Serra Leoa
e Japão nos últimos censos, comparados.
O povo cubano também é longevo, com uma expectativa de vida de 79 anos. Próximo da expectativa de vida de 83 anos dos japoneses (povo mais longevo do mundo), mas distante da média de vida de 52  anos dos serra-leoninos (povo com vida mais breve). E um pouco mais que os 73 da vizinha Guatemala. O gráfico ao lado mostra esses dados de forma clara.
Isso se deve, principalmente ao bom sistema de saúde de Cuba. O documentário "Sicko" do cineasta americano Michael Moore deixa isso claro ao compará-lo com o sistema de saúde completamente privado de seu país, os Estados Unidos.
IDHs de Cuba, Brasil, Libéria e Noruega nos últimos anos
comparados.

O Índice de Desenvolvimento Humano de Cuba, (mesmo levando em consideração que a fórmula de cálculo do IDH foi feita em moldes para países capitalistas) em 2017 foi de 0,777 melhor que o do Brasil (0,699) e da Libéria (0,333), dois países capitalistas subdesenvolvidos. Mas menor do que o da Noruega (0,943), país com melhor IDH do Planeta (como mostra o gráfico comparativo à direita, o IDH dos países nos últimos anos). Isso, entre outras coisas, mostra o quão falsa é a narrativa anticomunista de que Cuba é um inferno na Terra. Vemos que o povo cubano, além de menos faminto, é mais educado, mais longevo e mais saudável que muitos povos de toda a América Latina.

Economia
"A falta de competição, característica do socialismo, leva ao atraso econômico e tecnológico"

PIBs de Cuba, Nicarágua, Guatemala e Costa Rica nos
últimos anos comparados.
Esse é um dos argumentos clássicos que os liberais usam para defender o capitalismo. Porém, quando o usam esse argumento, esquecem-se que Costa Rica e Guatemala, países que nunca foram comunistas tem PIB total menores do que o de Cuba. O que quebra o argumento de que Cuba é um país tecnologicamente atrasado por ter adotado o sistema socialista, seus vizinhos, que tiveram processo colonizatório parecido, tem uma economia mais "atrasada" ainda!
Os fortes da economia cubana são o turismo e a "exportação" de serviços médicos para outros países. 62 países utilizam os serviços de médicos cubanos, incluindo o Brasil, até o começo desse ano.
A distribuição de alimentos em Cuba é feita por uma caderneta onde são mostradas cotas que estabelecem a quantidade de cada alimento a que cada família tem direito durante um determinado período de tempo. É distribuída aos cidadãos, que, apesar de eventuais períodos de escassez, muitos deles causados pelo embargo econômico imposto pelos Estados Unidos, por dados já apresentados nesse texto, temos evidências de que é um sistema bem sucedido. Os cubanos costumam chamar o caderninho de "libreta".

 Educação
Crianças cubanas vão à escola.

Cuba tem uma taxa de alfabetização de 99,8%. Taxa parecida com a de países como Alemanha e Reino Unido. 12,9 % do PIB da ilha é investido em educação, sendo que os países nórdicos, conhecidos pelo seu amplo welfare state, investem, em média 9%. Até a revolução, só haviam três universidades em Cuba, hoje, são 67. Isso sem contar os campi menores em regiões mais periféricas do país. 77 mil pessoas trabalham como professores no em Cuba. Gosto de usar a perfeita análise da jornalista Tatiana Col, do site Pragmatismo Político: "Cuba toda é uma grande escola".

A qual conclusão chegamos com essa enxurrada de dados?

Cuba, durante o domínio espanhol, sofreu um processo colonizatório de exploração extremamente agressivo. Segundo o próprio John F. Kennedy, 35º Presidente dos Estados Unidos, a nação caribenha sofreu "O pior exemplo de colonização econômica, humilhação e exploração do mundo". Os países que passam por colonizações dessa maneira costumam estar fadados à pobreza e ao subdesenvolvimento. Cuba foi o segundo país que mais recebeu escravos no mundo, perdendo apenas para o Brasil. Esse ciclo de degradação foi perpetuado por Fulgencio Batista, que garantiu a submissão de Cuba aos americanos, enquanto o povo de seu país estava faminto.
A partir de 1959, vários esforços sociais foram feitos e, segundo o que os dados mostram, deram certo. Aqueles que culpam o regime socialista pela situação supostamente desesperadora de fome e miséria no país, além de ignorarem dados compilados pela O.N.U. e publicados no Brasil pelo I.B.G.E., principal fonte de pesquisa para este texto, ignoram o fato de que os países vizinhos de Cuba, que sofreram os mesmos tipos de humilhação e nunca adotaram o socialismo (com exceção da Nicarágua) tem problemas sociais mais graves do que a ilha de Castro. Vejamos a expectativa de vida da Honduras e Guatemala: seis anos a menos que a de Cuba. Como mostrei nesse texto, vários indicadores sociais de Cuba se assemelham aos de países ricos e de primeiro mundo. Isso tudo para um país cuja sina seria a mesma de seus vizinhos: pobreza, analfabetismo, criminalidade altíssima e fome. Agora imaginem Cuba sem o socialismo... A tendência é que sua situação fosse tão grave quanto a desses países, e claramente não é!
Vejo muitos chamarem Cuba de "ditadura comunista". Ora, se Cuba é realmente uma ditadura comunista, os Estados Unidos são uma ditadura capitalista. Nos Estados Unidos, não é proibida a fundação de organizações políticas, porém, só dois partidos disputam as eleições (detalhe: nenhum dos dois é comunista). Assim como em Cuba não é proibida a fundação de movimentos políticos não-alinhados ao governo, existindo até mesmo um Instituto Mises na ilha, fundação inspirada no filósofo e economista austríaco Ludwig von Mises, da Escola de Viena, corrente mais radical do pensamento liberal, de viés anarco-capitalista. A eleição presidencial nos Estados Unidos é indireta, o que algumas vezes faz com que o candidato vencedor não seja o com o maior número de votos populares (que é o caso do atual Presidente americano Donald Trump). Assim como Cuba, cuja eleição presidencial é feita pela Assembléia Nacional do Poder Popular. Mas não vejo os Estados Unidos serem chamados de ditadura do empresariado... Cuba tem seus defeitos, não nego. Como o escasso acesso à internet (consequência do embargo econômico) e o fato de a perseguição política aos homossexuais ter sido tardiamente abolida em 2007, erro que já foi admitido por Fidel Castro, que assumiu sua culpa nesse triste processo.
Mas o quadro geral é visível: o socialismo trouxe educação, saúde, segurança e a certeza de que os cubanos não dormirão de barriga vazia. Já o imperialismo ianque trouxe prostituição, miséria, drogas e até uma ditadura como brinde.

Se duvidar de algo pode me questionar nos comentários e checar minhas fontes:

https://paises.ibge.gov.br/mapa/cuba

https://gz.diarioliberdade.org/artigos-em-destaque/item/90874-por-que-a-educacao-em-cuba-e-uma-historia-de-exitos-e-o-que-ela-pode-ensinar-ao-mundo.html




                                                                           













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